Aposta de Risco: Em guinada estratégica, EUA suspendem veto a tecnologias para a China em busca de um acordo comercial – Noticiário 24H


China e EUA

Governo Trump alivia restrições à exportação de chips e outros produtos sensíveis em uma tentativa de quebrar o impasse com Pequim e garantir um encontro entre os presidentes. A medida, que ocorre em meio a uma nova rodada de negociações na Suécia, já enfrenta dura oposição de especialistas em segurança nacional.

Em uma das mais significativas guinadas em sua política comercial, o governo dos Estados Unidos suspendeu discretamente as restrições à exportação de produtos de alta tecnologia para a China. A informação, divulgada pelo jornal Financial Times nesta segunda-feira (28), revela uma aposta de alto risco da administração Trump para destravar as negociações comerciais, fortalecer um frágil acordo e garantir um encontro com o presidente chinês, Xi Jinping, ainda este ano.

A mudança de rota representa uma concessão estratégica em uma das áreas mais sensíveis da disputa entre as duas potências. Segundo a reportagem, o Departamento de Comércio americano foi instruído a evitar medidas rígidas contra Pequim nos últimos meses. O exemplo mais claro dessa nova diretriz envolve a gigante de tecnologia Nvidia: após ter bloqueado a exportação de chips de inteligência artificial projetados para o mercado chinês, o governo voltou atrás na decisão depois de conversas diretas entre Trump e o CEO da empresa, Jensen Huang.

Oficialmente, a Casa Branca enquadra a medida como parte de uma negociação mais ampla envolvendo o acesso a terras raras e ímãs, matérias-primas cruciais nas quais a China detém o monopólio. Contudo, a decisão já acendeu o alerta em Washington. De acordo com o FT, um grupo de 20 especialistas em segurança e ex-funcionários do governo planeja divulgar uma carta aberta ainda hoje, classificando a medida como “um erro estratégico que coloca em risco a vantagem econômica e militar dos Estados Unidos”.

Negociações em Estocolmo e uma frágil trégua

A revelação sobre a flexibilização tecnológica ocorre em um momento crítico. Delegados dos dois países estão reunidos em Estocolmo, na Suécia, nesta segunda-feira, para a terceira rodada de negociações em busca de uma solução duradoura para a guerra tarifária.

Segundo o jornal chinês South China Morning Post, a expectativa é que as conversas resultem em uma nova trégua de 90 dias, durante a qual nenhuma nova tarifa seria imposta. Fontes familiarizadas com a posição de Pequim afirmam que a delegação chinesa pressionará pela remoção de taxas adicionais impostas por Trump, como as relacionadas ao fentanil, e poderia aceitar uma tarifa básica de 10% em troca.

O próprio presidente Trump, ao chegar à Escócia para uma reunião com a liderança europeia, adotou um tom otimista. “Estamos muito perto de um acordo com a China”, disse a repórteres, antes de acrescentar uma de suas ressalvas características: “Realmente fizemos um acordo com a China, mas vamos ver como isso vai acontecer”.

Um histórico de avanços e recuos

A cautela se justifica pelo histórico recente e volátil da relação. Em 12 de maio, os dois países anunciaram uma trégua de 90 dias, com os EUA reduzindo suas tarifas sobre produtos chineses de 145% para 30%, e a China baixando as taxas sobre produtos americanos de 125% para 10%.

Contudo, poucas semanas depois, o acordo ruiu quando Trump acusou Pequim, em uma postagem em sua rede social, de ter “VIOLADO TOTALMENTE SEU ACORDO CONOSCO”. O episódio foi apenas mais um capítulo de uma escalada que, desde o início de abril, viu os dois países trocarem golpes tarifários que levaram as alíquotas a patamares recordes, mergulhando a economia global em um estado de incerteza.

Agora, ao colocar na mesa uma concessão tão significativa quanto o acesso à tecnologia americana, a Casa Branca sinaliza uma nova estratégia. Resta saber se o gesto será suficiente para reconstruir a confiança e pavimentar o caminho para a paz comercial, ou se será apenas mais uma manobra em um dos mais complexos jogos geopolíticos da atualidade.