A Laranja Mecânica da Incerteza: Por que a isenção do suco não salva o citricultor do desastre do tarifaço – Noticiário 24H
Em meio ao caos generalizado causado pelo “tarifaço” de Donald Trump, o governo brasileiro e o setor de citricultura celebraram uma pequena e ilusória vitória: a isenção do suco de laranja da sobretaxa de 50%. A notícia, à primeira vista, parece um alívio. Na realidade, é uma perigosa distração que mascara a verdadeira ameaça e expõe a profunda vulnerabilidade de um dos setores mais importantes do agronegócio nacional. O citricultor brasileiro tem, sim, muito com o que se preocupar.
A análise rasa, focada apenas na isenção do produto final, ignora a complexa teia da economia e o veneno mais letal para qualquer negócio: a insegurança jurídica. O problema não é o imposto sobre o suco que não veio; é sobre todos os outros custos e incertezas que a crise diplomática, criada pela inépcia do governo Lula, já tornou realidade.
Primeiro, há o custo da produção. A citricultura moderna não é feita apenas de laranjas. Ela depende de uma vasta cadeia de insumos — fertilizantes, defensivos agrícolas, peças para máquinas, tecnologia de irrigação — muitos dos quais são importados ou têm seus preços dolarizados. O “tarifaço”, ao criar uma crise cambial e encarecer a importação de forma geral, eleva o custo para se produzir a laranja. A margem de lucro do produtor é esmagada antes mesmo de a fruta sair do pé.
Segundo, e mais importante, é o custo da incerteza. O que a política externa de Trump e a resposta patética do Brasil ensinaram a todo o setor produtivo é que as regras do jogo podem mudar da noite para o dia, por motivos puramente políticos. Hoje, o suco de laranja está isento. E amanhã? Quem garante que, em uma nova escalada da crise, o suco não será o próximo alvo?
Nenhum empresário ou agricultor sério fará investimentos de longo prazo — como a renovação de pomares ou a compra de novos equipamentos — em um ambiente onde seu principal mercado de exportação pode ser aniquilado por um tuíte. O tarifaço, mesmo com a isenção, destruiu a previsibilidade, que é o oxigênio de qualquer negócio.
Portanto, a celebração da isenção do suco de laranja é uma demonstração de miopia. Ela mascara a realidade de que o setor já está sendo punido pelo aumento dos custos de produção e, pior, está paralisado pelo medo do que pode vir a seguir. A crise não foi resolvida com uma linha a menos na lista de produtos tarifados. Ela apenas começou. O maior prejuízo do tarifaço para o citricultor não é o imposto, é a certeza de que, sob a atual gestão diplomática, não há mais porto seguro.