Copom deve manter Selic em 15%, mas tarifa dos EUA gera incerteza sobre juros – Noticiário 24H
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central inicia, nesta terça-feira (29), sua quinta reunião do ano com uma decisão que o mercado já considera definida: a manutenção da taxa Selic em 15% ao ano. No entanto, o verdadeiro foco dos analistas não está na decisão em si, mas em como o comitê irá se posicionar diante da maior incerteza do cenário atual: o iminente “tarifaço” de 50% que o governo de Donald Trump ameaça impor ao Brasil a partir de 1º de agosto.
A manutenção dos juros é um consenso. Em relatórios, bancos como o JP Morgan afirmam que qualquer movimento diferente “seria uma surpresa”, visto que o próprio Banco Central já havia sinalizado a interrupção do ciclo de alta. A melhora nos dados de inflação recentes, com o IPCA em linha ou abaixo do esperado, e sinais de desaceleração da atividade econômica dão conforto para essa decisão.
O “elefante na sala”, contudo, é a crise diplomática com os EUA. A tarifa de Trump gera um dilema para a política monetária. Por um lado, seu impacto direto tende a ser desinflacionaria, pois deve frear as exportações, diminuir o ritmo do PIB e aumentar a oferta de produtos no mercado interno. Em tese, isso poderia até antecipar um futuro corte de juros.
Por outro lado, os riscos indiretos são inflacionários. Uma escalada na crise pode desvalorizar o real, pressionando os preços. E um cenário ainda mais temido pelo mercado, embora visto como improvável, seria uma retaliação do Brasil com tarifas sobre produtos americanos, o que forçaria o Copom a adotar uma postura ainda mais dura para controlar a inflação.
Diante dessa encruzilhada, a comunicação do Banco Central na quarta-feira (30), ao final da reunião, será dissecada palavra por palavra. A expectativa é de que o comunicado mantenha a cautela, cite o aumento das incertezas no cenário externo devido à questão tarifária, mas evite tirar conclusões precipitadas.
Enquanto isso, as projeções do mercado financeiro, consolidadas no Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central, indicam que a primeira queda da Selic só deve ocorrer em março de 2026. A grande questão que o mercado quer ver respondida é se a crise com os EUA pode alterar drasticamente este cronograma.