A Morte da Responsabilidade: Influenciador morre ao vivo e expõe a imbecilidade humana, não a falha da tecnologia – Noticiário 24H
A morte do influenciador francês Raphaël Graven, o “Jean Pormanove”, durante uma transmissão ao vivo, desencadeou a previsível caça às bruxas da era moderna: a culpa é da plataforma. Políticos, reguladores e a mídia apressaram-se em apontar o dedo para a Kick, exigindo mais controle e mais censura. Essa narrativa, no entanto, é uma cortina de fumaça covarde, uma tentativa de desviar o olhar do verdadeiro e muito mais assustador culpado: a falência completa da responsabilidade e do bom senso humano.
A plataforma não matou Jean Pormanove. A tecnologia não o forçou a se submeter a um espetáculo de humilhação e violência por horas a fio. A verdade inconveniente é que sua morte foi o resultado de uma série de escolhas trágicas, feitas por adultos conscientes, em um mercado perverso de humilhação por engajamento.
Em primeiro lugar, há a responsabilidade do próprio indivíduo. Graven, em sua busca desesperada por relevância e monetização, aceitou se transformar em um objeto de degradação. Ele voluntariamente participou de um “circo de horrores” onde sua própria dignidade era a mercadoria. Não foi uma vítima passiva da tecnologia; foi um participante ativo de seu próprio calvário, em uma aposta trágica que lhe custou a vida.
Em segundo lugar, e de forma ainda mais grave, há a responsabilidade dos seus algozes, os outros “influenciadores” que participaram da transmissão. Eles, em sua busca por lucrar com o sofrimento alheio, ultrapassaram todos os limites da decência humana, tratando outro ser humano como um boneco em um show de horrores. A plataforma não os obrigou a serem cruéis; a escolha foi deles.
E, por fim, há a responsabilidade da audiência. As dezenas de milhares de pessoas que assistiram à transmissão por horas não são meros espectadores; são os consumidores que criam a demanda para este mercado da humilhação. Cada clique, cada doação, cada minuto de audiência foi um incentivo para que o “espetáculo” continuasse. Eles não estavam assistindo a um crime, estavam financiando-o.
Culpar a plataforma é o equivalente a culpar a fábrica de papel pelo conteúdo de um livro ruim. A tecnologia é uma ferramenta, um amplificador do que já existe na natureza humana. O que a morte de Jean Pormanove revela não é que a Kick é perigosa, mas que uma parcela da humanidade, quando livre das amarras da interação social real e escondida atrás de um avatar, se sente confortável em consumir a degradação alheia como entretenimento.
A solução para esta crise não virá de mais leis de censura ou da regulação estatal da internet, que invariavelmente serão usadas para calar o dissenso político. A solução, se é que ela existe, passa por um doloroso exame de consciência coletivo e pelo resgate de um princípio que parece ter se perdido na era digital: a responsabilidade individual.