Batalha de Rap em Macapá: a diferença entre cultura livre e evento estatal – Noticiário 24H
Movimentos culturais autênticos, como as batalhas de rima do universo Hip Hop, florescem a partir de um princípio fundamental: a ordem espontânea. Elas nascem da ação voluntária de indivíduos em praças, garagens e eventos independentes, onde o mérito é julgado pelo público e pela própria comunidade, sem a necessidade de um planejador central. Um evento anunciado para este sábado (6) em Macapá, no entanto, serve para ilustrar o exato oposto: a tentativa do Estado de replicar, por meio da burocracia, um fenômeno que só tem valor quando é livre.
A “Batalha de Rap Macapá”, a ser realizada no Mercado Central, é uma iniciativa capitaneada por um aparato estatal. Envolve a Fundação de Cultura, a Secretaria de Turismo e até a Secretaria de Direitos Humanos, onde os MCs devem se submeter a um processo de inscrição presencial, com vagas limitadas, para participar. O evento conta ainda com o apoio explícito de um vereador, evidenciando a intersecção entre a máquina política e a expressão artística.
Do ponto de vista libertário, essa estrutura, por mais bem-intencionada que seja, ignora a essência do que faz a cultura de rua ser vibrante. A validação de um artista em uma batalha real vem da sua capacidade de superar adversários em um ambiente de livre competição de ideias e versos. Quando o Estado se torna o organizador, a validação passa a ser, em última instância, burocrática. O artista não está apenas participando de uma batalha; está participando de um programa de governo.
O mesmo princípio se aplica ao empreendedorismo. O evento prevê estandes para vendedores locais, o que é positivo. No entanto, o verdadeiro fomento ao empreendedorismo não ocorre ao se conceder uma permissão para um evento específico, mas sim ao se remover as barreiras que impedem o pequeno comerciante de atuar livremente todos os dias: altas cargas tributárias, complexidade regulatória e a necessidade de incontáveis licenças.
A função de um governo que preza pela liberdade não é criar cultura ou “potencializar” artistas, pois isso é uma presunção de conhecimento que nenhum planejador central possui. Sua função é garantir as condições para que os indivíduos o façam por si mesmos: a segurança dos espaços públicos, a proteção à liberdade de expressão e um ambiente de negócios onde o pequeno empreendedor possa prosperar sem pedir permissão ao Estado.
Uma batalha de rap organizada pela prefeitura pode até oferecer um palco, mas jamais replicará a energia e a legitimidade de uma cultura que se forja na liberdade e na ausência de controle.