O Estado Investiga a Si Mesmo: Dino aciona a PF contra ‘emendas PIX’ e expõe a farsa do orçamento secreto 2.0 – Noticiário 24H
Em um ato que seria louvável se não fosse tragicamente cínico, o Ministro da Justiça, Flávio Dino, ordenou que a Polícia Federal investigue R$ 694 milhões em “emendas PIX” que não possuem um plano de trabalho claro. A notícia, vendida como um grande esforço de combate à corrupção, é, na verdade, a mais perfeita admissão de fracasso e a prova cabal de que o Estado brasileiro se tornou um monstro que investiga os crimes que ele mesmo cria e incentiva.
A investigação não é sobre a busca por justiça; é sobre o controle de danos e, principalmente, sobre o uso da Polícia Federal como um instrumento de negociação política com o Congresso Nacional.
Vamos aos fatos. As “emendas PIX”, um mecanismo que permite a transferência direta de verbas para estados e municípios sem a necessidade de convênios ou de uma fiscalização rigorosa, foram a “solução” encontrada pela classe política para substituir o orçamento secreto, declarado inconstitucional. Ou seja, o sistema não foi moralizado; ele apenas mudou de nome. O governo e o Congresso, em conluio, criaram um novo ralo para o dinheiro do contribuinte, mais opaco e mais suscetível a desvios.
Agora, o mesmo governo que participa e se beneficia desse arranjo, envia a Polícia Federal para investigar as “irregularidades”. É o teatro do absurdo em sua forma mais pura. É como se o criador da doença se orgulhasse de anunciar a busca por um remédio.
O que a ordem de Dino realmente significa?
- Uma Arma de Barganha: A investigação não é para todos; ela é seletiva. Ela serve como uma espada sobre a cabeça de parlamentares, uma ferramenta para pressionar e barganhar apoio no Congresso. Para os aliados, vista grossa. Para os dissidentes, o rigor da lei. A PF, que deveria ser um órgão de Estado, é mais uma vez rebaixada à condição de polícia de governo.
- Uma Cortina de Fumaça: A “grande operação” contra as emendas serve para criar uma cortina de fumaça, desviando a atenção da opinião pública do problema real: a existência de um mecanismo legalizado de compra de apoio político. O governo não quer acabar com as emendas; ele quer controlar quem as recebe e como elas são usadas para manter a “governabilidade”.
- A Hipocrisia do Sistema: O escândalo não é o desvio de R$ 694 milhões. O escândalo é a existência de um sistema que permite que bilhões de reais sejam distribuídos sem transparência, com base em critérios puramente fisiológicos. A investigação de Dino ataca o sintoma, mas preserva a doença, pois é da doença que o sistema se alimenta.
Enquanto o Brasil clama por um corte de gastos e pelo fim dos privilégios, o governo nos oferece o espetáculo de uma investigação sobre um esquema que ele mesmo ajudou a criar. Não é um combate à corrupção; é a gestão da corrupção como ferramenta de poder.