Reforço em SP, Fraqueza em Brasília: 1.500 novos policiais chegam para enxugar o gelo da impunidade – Noticiário 24H

O governo de São Paulo anunciou, em um gesto de resposta ao clamor popular por mais segurança, a nomeação de 1.500 novos policiais civis e técnico-científicos. A medida é, sem dúvida, um alívio necessário para uma corporação que sofre com um déficit crônico de pessoal e uma injeção de ânimo para a linha de frente do combate ao crime. No entanto, celebrar esta contratação como a solução para o problema da violência é uma perigosa ilusão. Sem uma mudança radical nas leis penais em Brasília e sem um plano sério de expansão do sistema prisional, esses novos e bem-vindos agentes estão destinados a uma única e frustrante tarefa: enxugar gelo.

O problema da segurança pública no Brasil não se resolve apenas com mais polícia na ponta. A polícia, por mais eficiente que seja, é apenas a primeira etapa de um sistema que está fundamentalmente quebrado em suas fases mais decisivas.

A Porta Giratória da Justiça

O trabalho de investigação e prisão, que será reforçado por estes 1.500 novos profissionais, esbarra em uma legislação penal frouxa e em um sistema judicial que, muitas vezes, funciona como uma porta giratória. Graças a mecanismos como as audiências de custódia, que frequentemente liberam criminosos horas após a prisão, e a um sistema de progressão de pena que coloca de volta às ruas indivíduos de alta periculosidade, o esforço policial é constantemente anulado.

O policial prende, mas a lei, escrita e aprovada por políticos no Congresso Nacional em Brasília, manda soltar. Esta realidade cria um ciclo de desmoralização para as forças de segurança e de impunidade para a criminalidade, que sabe que o custo de seus atos é baixo. Os novos policiais estarão, em muitos casos, prendendo os mesmos indivíduos que seus colegas prenderam meses ou semanas antes.

Onde Colocar os Presos?

Mesmo quando a Justiça consegue manter um criminoso condenado, o sistema esbarra em um segundo e intransponível obstáculo: a falta de vagas no sistema prisional. O Brasil sofre com uma superlotação carcerária crônica, e São Paulo não é exceção. Sem a construção de novos presídios em larga escala, não há capacidade física para manter encarcerada a massa de criminosos que aterroriza a sociedade.

A falta de vagas força o Judiciário a buscar “penas alternativas” e a acelerar a soltura de detentos, não por um princípio de ressocialização, mas por pura necessidade matemática.

Uma Solução Incompleta

Portanto, a nomeação dos 1.500 novos policiais, embora seja uma medida correta e necessária por parte do governo de São Paulo, ataca apenas uma fração do problema. É um investimento local para combater uma doença de origem nacional.

A verdadeira solução para a violência no Brasil não virá de mais cerimônias de formatura de policiais, mas da coragem do Congresso Nacional de aprovar uma reforma profunda nas leis penais, endurecendo as penas para crimes violentos e acabando com os benefícios que garantem a impunidade. E, em paralelo, de um plano nacional sério para a construção de presídios, que tire os criminosos de circulação e garanta que o trabalho da polícia não seja em vão.

Sem isso, os novos e valorosos policiais de São Paulo estarão apenas secando o chão enquanto a torneira da impunidade, controlada por Brasília, continua jorrando.