A Ilusão da Carne Barata: Por que o ‘tarifaço’ de Trump causará uma alta de preços no longo prazo para o consumidor brasileiro – Noticiário 24H
A narrativa populista de que o “tarifaço” de Donald Trump sobre a carne brasileira poderia, paradoxalmente, beneficiar o consumidor com preços mais baixos é uma perigosa simplificação da realidade econômica. Embora uma queda momentânea possa ocorrer com o descarte de estoques no mercado interno, a verdade inconveniente é que a intervenção americana, somada a fatores de mercado preexistentes, criará uma tempestade perfeita para uma alta sustentada no preço da carne a médio e longo prazo.
A lógica simplista sugere que, ao bloquear um grande mercado exportador, a oferta de carne no Brasil aumentaria, derrubando os preços. Essa análise, no entanto, ignora a reação racional dos produtores a um sinal claro de instabilidade e queda na demanda: eles irão produzir menos.
O fator mais crucial, que o governo convenientemente omite em suas análises otimistas, é o ciclo pecuário. Independentemente das tarifas, os pecuaristas brasileiros já planejavam entrar em uma fase de retenção de fêmeas para reprodução, após um período de abates elevados. O “tarifaço” de Trump funciona como um poderoso acelerador para essa decisão. Com a súbita inviabilidade do segundo maior mercado de exportação, o incentivo para abater o gado despenca. A resposta lógica e de mercado do produtor é “segurar o boi no pasto”, diminuindo drasticamente a oferta futura.
Segundo especialistas, os frigoríficos já paralisaram a produção destinada aos EUA, e menos animais estão sendo enviados para o confinamento. Portanto, após uma possível e breve liquidação de estoques que pode gerar uma queda pontual, o que se seguirá é um aperto na oferta. Com a demanda interna constante, a lei da oferta e da procura, desta vez de forma correta, ditará o resultado: preços mais altos para o consumidor brasileiro.
A situação é agravada pelo cenário global. A oferta de carne bovina está caindo em todo o mundo, inclusive nos EUA e na Austrália, concorrentes do Brasil. Essa escassez global facilitará para que os exportadores brasileiros, no médio prazo, encontrem novos mercados para o produto, como o Egito, garantindo que a “sobra” de carne no Brasil seja apenas um fenômeno temporário.
No fim, o “tarifaço” é um exemplo clássico das consequências não intencionais da intervenção estatal. A falha da diplomacia do governo brasileiro, que provocou a crise, será paga duplamente pelo cidadão: primeiro, com o prejuízo para a economia e a imagem do país; e segundo, na gôndola do supermercado, quando a inevitável redução na oferta de gado se traduzir em preços mais salgados para a carne. A promessa de picanha barata, mais uma vez, se revela uma miragem econômica.