A Bolívia Troca de Fantasmas: Sem a esquerda, país escolherá entre dois nomes da velha direita – Noticiário 24H

A Bolívia se prepara para um segundo turno presidencial em 19 de outubro que, mais do que uma escolha, é um epílogo. Após o suicídio político do Movimento ao Socialismo (MAS), que se canibalizou em uma guerra de egos entre Evo Morales e Luis Arce, a nação agora se vê forçada a escolher entre dois fantasmas de seu próprio passado: o senador Rodrigo Paz Pereira e o ex-presidente Jorge “Tuto” Quiroga. A eleição não representa uma nova era, mas o retorno inevitável à velha direita que governava o país antes da ascensão de Morales.

A disputa entre Paz e Quiroga é o ato final de uma tragédia anunciada. O colapso da esquerda, que dominou a política boliviana por quase duas décadas, não abriu caminho para uma nova liderança ou para um projeto inovador, mas simplesmente devolveu o poder aos mesmos grupos que foram varridos do mapa em 2006. É a demonstração cabal de que a falência de um projeto de poder raramente leva a uma utopia, mas sim a um realinhamento de forças entre as elites já conhecidas.

Ambos os candidatos, embora com discursos e estilos diferentes, representam a mesma visão de mundo: um Estado menor, maior abertura ao mercado e um realinhamento geopolítico com os Estados Unidos. Suas campanhas foram marcadas por promessas de austeridade fiscal para combater a crise econômica deixada pela gestão Arce uma crise de inflação, falta de dólares e escassez de combustíveis que foi a pá de cal no caixão do MAS.

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Jorge “Tuto” Queiroga, candidato à presidência da Bolívia, em evento realizado após o 1° turno das eleições • Reuters

O que a eleição de 19 de outubro decidirá não é o “rumo” da Bolívia, mas qual facção da direita terá a ingrata tarefa de administrar as ruínas de um país economicamente devastado e socialmente fraturado. O vencedor herdará uma nação dividida, um Congresso provavelmente fragmentado e a desconfiança de uma população cansada de promessas, tanto da esquerda quanto da direita.

A derrota histórica da esquerda boliviana, portanto, não resultou em uma revolução liberal ou em uma renovação de quadros. Resultou no retorno do establishment pré-Evo. O povo boliviano, exausto da crise e da briga fratricida de seus antigos líderes, agora se vê diante de uma escolha que parece ter saído de um livro de história dos anos 90. O ciclo se fecha, e a Bolívia se prepara para ser governada, mais uma vez, pelos fantasmas de seu passado.