O Teatro da Democracia: Corinthians marca ‘eleição’ indireta e conselho de 200 homens decidirá o futuro de 30 milhões de torcedores – Noticiário 24H

Em um ato que expõe a profunda desconexão entre a paixão de milhões e o poder de poucos, o Corinthians finalmente marcou a data para a eleição que definirá o sucessor de Augusto Melo. O novo presidente do clube será escolhido em 2 de setembro, não pelo voto dos mais de 30 milhões de torcedores, nem mesmo pelos sócios adimplentes, mas por um seleto grupo de cerca de 200 conselheiros em uma eleição indireta. O que é apresentado como um rito democrático é, na verdade, a mais pura expressão do poder oligárquico que sufoca o futebol brasileiro.

A necessidade de uma nova eleição é o sintoma final de uma gestão desastrosa. Augusto Melo, que renunciou ao cargo em meio a uma avalanche de crises — do escândalo com o patrocinador máster à performance pífia em campo —, deixa para trás um clube em frangalhos. A solução encontrada, no entanto, não é um chamado à base de sócios para que ela decida os rumos, mas um conchavo de bastidores, onde as mesmas velhas raposas políticas que levaram o clube à ruína se reunirão para escolher entre si quem irá gerir os destroços.

O mecanismo da eleição indireta é a ferramenta perfeita para a manutenção do status quo. Ele garante que o poder permaneça nas mãos das mesmas facções que há décadas controlam o Parque São Jorge, como o grupo “Renovação e Transparência”. É a negação da democracia em sua forma mais explícita, onde o sócio-torcedor, que paga sua mensalidade e sustenta o clube, é tratado como um mero consumidor, sem direito a voz nas decisões mais cruciais.

A disputa que se desenha não é sobre projetos para o Corinthians, mas sobre qual ala do conselho terá o controle da caneta e do cofre. Nomes como os dos candidatos da oposição e da situação já circulam nos corredores do clube, em uma dança de cadeiras que tem pouco a ver com o futuro do futebol e tudo a ver com a partilha de poder.

Enquanto a Fiel Torcida sofre nas arquibancadas, a elite do conselho se prepara para um jogo de cartas marcadas. A eleição de 2 de setembro não será um ato de renovação, mas a reafirmação de um modelo arcaico e antidemocrático, onde o destino de uma das maiores instituições esportivas do país é decidido em uma sala fechada, longe dos olhos e do voto daqueles que são a verdadeira alma do Corinthians.