A ‘Camelotização’ do TikTok: Como a rede social se transformou em um shopping center de baixa qualidade – Noticiário 24H
A chegada e rápida expansão do TikTok Shop no Brasil, que completa agora três meses, marca a fase final e melancólica da transformação de uma plataforma de entretenimento em um gigantesco “camelódromo” digital. A crítica de usuários, que afirmam que a rede social “está parecendo camelô”, não é apenas uma observação bem-humorada; é o diagnóstico preciso da decadência de um ecossistema que trocou a criatividade orgânica pela venda agressiva de quinquilharias.
O que estamos testemunhando é a consequência inevitável de um modelo de negócio que otimiza para uma única métrica: o engajamento a qualquer custo. O algoritmo, que antes promovia danças e vídeos criativos, agora empurra incessantemente para o usuário uma avalanche de produtos de baixa qualidade, impulsionados por “influenciadores” que operam como camelôs digitais, gritando as “promoções imperdíveis” de garrafinhas de água, luminárias de LED e bugigangas eletrônicas.
A transição é brutal. O feed, que antes era uma janela para a criatividade e o humor, tornou-se um corredor de shopping center popular, onde cada vídeo é uma potencial e insistente propaganda disfarçada. A experiência do usuário foi sacrificada no altar do e-commerce de massa. O TikTok, na prática, abdicou de sua identidade como rede social para se tornar um concorrente direto da Shopee e do AliExpress, mas com um verniz de entretenimento.
Essa “camelotização” levanta um ponto fundamental da economia digital: a natureza efêmera das plataformas. O TikTok alcançou seu ápice cultural ao oferecer um espaço para a expressão autêntica. Agora, em uma busca desesperada por novas fontes de receita, a empresa está matando a galinha dos ovos de ouro, poluindo o ambiente que a tornou relevante em primeiro lugar. O excesso de marketing e a queda na qualidade do conteúdo são um convite para que os usuários mais criativos e exigentes migrem para outras plataformas, iniciando o ciclo de decadência.
Apesar das queixas, o modelo parece ser um sucesso financeiro, o que revela uma verdade inconveniente sobre o mercado de massa: há uma demanda gigantesca por produtos baratos e de gratificação instantânea, mesmo que a qualidade seja duvidosa. O TikTok Shop não criou essa demanda, apenas a instrumentalizou de forma mais eficiente do que qualquer outra plataforma antes dela.
O futuro do TikTok no Brasil dependerá do equilíbrio que a empresa conseguirá (ou não) encontrar. Se a balança pender demais para o “camelódromo”, a plataforma corre o risco de se tornar um ambiente descartável, perdendo o capital cultural que a construiu. Por enquanto, a impressão que fica é a de que a rede social vibrante que conhecíamos está sendo soterrada por uma montanha de produtos “quase de graça”.