A Falsa Blindagem: Por que o ‘Tarifaço’ dos EUA pode não abalar os frigoríficos brasileiros AGORA, mas expõe fragilidades estruturais – Noticiário 24H
A notícia de que grandes frigoríficos brasileiros aparentemente não deverão sentir um impacto tão significativo do aumento de tarifas de importação de carne bovina pelos Estados Unidos foi recebida com um misto de alívio e cautela no setor. Análises iniciais apontam que, devido a cotas existentes e a outros fatores de mercado, o “tarifaço” americano teria um efeito limitado no curto prazo. No entanto, essa aparente imunidade não deve ser motivo para celebração, pois ela apenas mascara as profundas vulnerabilidades de um setor que depende excessivamente de um modelo de exportação de commodities e está à mercê das voláteis políticas protecionistas de nações desenvolvidas.
A explicação para a resiliência momentânea reside em mecanismos como as cotas de exportação preexistentes, que permitem que um volume limitado de carne brasileira entre nos EUA com tarifas menores ou isentas. Além disso, outros mercados, como a China, continuam a ser grandes consumidores da carne bovina do Brasil, oferecendo uma alternativa, ainda que dependente da instabilidade geopolítica e das decisões unilaterais de Pequim.
Entretanto, essa aparente blindagem é ilusória. Ela não altera o fato de que o setor frigorífico brasileiro está fundamentalmente exposto à imprevisibilidade das políticas comerciais de seus principais compradores. A decisão dos EUA, mesmo que com impacto limitado agora, é um claro sinal de que o protecionismo está em ascensão globalmente, e o Brasil, com sua economia primário-exportadora, é um alvo fácil.
A euforia momentânea também desvia o foco de problemas estruturais crônicos que impedem o desenvolvimento de um setor mais robusto e menos dependente de oscilações externas. A falta de investimento em tecnologia, a baixa agregação de valor aos produtos, a infraestrutura logística precária e a excessiva burocracia interna tornam os frigoríficos brasileiros vulneráveis a longo prazo. Em vez de inovar e diversificar sua produção, o setor muitas vezes se contenta em competir apenas por preço, uma estratégia arriscada em um mercado global cada vez mais exigente e protecionista.
Além disso, a concentração excessiva em poucos mercados compradores coloca o Brasil em uma posição de barganha fraca. A dependência da China, por exemplo, cria uma vulnerabilidade geopolítica significativa, sujeitando o setor a decisões unilaterais de um regime autoritário com seus próprios interesses estratégicos.
O “tarifaço” americano, portanto, serve como um alerta, mesmo que seu impacto imediato seja atenuado. Ele expõe a fragilidade de um modelo econômico que se baseia na exportação de commodities brutas e a necessidade urgente de diversificação de mercados e de agregação de valor à produção. A falsa sensação de segurança proporcionada pelas cotas e pela demanda chinesa não pode nos cegar para o fato de que o futuro do agronegócio brasileiro depende de uma estratégia mais inteligente e menos reativa às oscilações do humor protecionista de potências estrangeiras.