A Ferramenta é Neutra, a Escolha é Sua: ChatGPT não o deixará mais burro, mas a sua preguiça intelectual, sim – Noticiário 24H
A ascensão meteórica de ferramentas como o ChatGPT ressuscitou um pânico moral recorrente a cada salto tecnológico: a de que a nova invenção nos tornará intelectualmente inferiores. A pergunta “o Google está nos deixando burros?”, feita em 2008, foi atualizada para “o ChatGPT está nos deixando burros?”. A resposta, no entanto, permanece a mesma: a ferramenta é neutra; a responsabilidade pela própria acuidade mental recai, como sempre, sobre o indivíduo.
A análise do professor Aaron French, publicada no site The Conversation, acerta ao diagnosticar a encruzilhada em que nos encontramos, mas a questão é menos sobre a tecnologia e mais sobre o caráter do usuário. A IA generativa, de fato, terceiriza o pensamento de uma forma que o Google jamais fez. Ela não apenas busca, mas sintetiza e cria. E é exatamente aí que a bifurcação entre o progresso e a atrofia se apresenta.
De um lado, há o caminho da dependência. O indivíduo que utiliza a IA como um substituto para o esforço cognitivo, aceitando suas respostas de forma acrítica e abdicando do trabalho de pesquisar, comparar e pensar, está escolhendo ativamente a própria obsolescência. Este é o usuário que cai na armadilha do efeito Dunning-Kruger, confundindo a eloquência da máquina com seu próprio conhecimento e se instalando confortavelmente no “topo do monte dos burros”.
Do outro lado, há o caminho da alavancagem. O indivíduo que enxerga a IA como uma ferramenta poderosa para aumentar sua própria capacidade — usando-a para organizar ideias, refinar argumentos, acelerar pesquisas e explorar novas possibilidades — está se posicionando para o futuro. Este usuário não terceiriza o pensamento; ele o potencializa.
A questão crucial que emerge deste cenário é como nosso sistema educacional prepara os jovens para essa realidade. Uma educação focada em memorização, respostas padronizadas e obediência a uma autoridade central (o professor, o livro didático) forma cidadãos predispostos a se tornarem dependentes da IA. Em contraste, uma educação que valoriza o pensamento crítico, o debate, a independência e a solução de problemas forma indivíduos capazes de dominar a ferramenta, e não de serem dominados por ela.
O livre mercado será o árbitro final e implacável dessa divisão. Como bem aponta o artigo, “a IA não vai roubar o seu emprego, mas alguém usando IA vai”. E podemos ir além: alguém que usa a IA para substituir suas habilidades será o primeiro a ser substituído. Aqueles que a usam para ampliar suas capacidades se tornarão exponencialmente mais valiosos.
Portanto, culpar o ChatGPT por um potencial declínio intelectual é uma tentativa de terceirizar a responsabilidade pela própria mente. A ferramenta existe. O desafio não é regulá-la ou temê-la, mas sim cultivar a disciplina e a ambição intelectual para usá-la como um martelo para construir, e não como uma muleta para se apoiar. A escolha, e suas consequências, é inteiramente individual.