A Hipocrisia da Proibição: Trump avalia reclassificar a maconha e expõe a falência da guerra às drogas – Noticiário 24H

Em um movimento que sinaliza uma possível e tardia rendição à realidade, a administração Trump avalia reclassificar a maconha, retirando-a da lista das substâncias mais perigosas controladas pelo governo federal. A medida, que está sendo analisada pela Casa Branca e pelo Departamento de Justiça, não é uma conversão do presidente aos princípios da liberdade, mas sim o reconhecimento pragmático de que a “guerra às drogas” — uma das mais caras e desastrosas intervenções estatais do último século — é um fracasso retumbante.

Atualmente, sob a lei federal, a maconha é classificada como uma droga de “Anexo I” (Schedule I), na mesma categoria de heroína e LSD, o que significa que, para o governo federal, ela não tem nenhum uso medicinal aceito e possui alto potencial de abuso. Essa classificação é uma ficção científica e a base legal para uma indústria de encarceramento em massa e de violação de direitos individuais que custou trilhões de dólares aos contribuintes.

A potencial reclassificação para um anexo inferior, como o Anexo III, ao lado de substâncias como a ketamina e esteroides anabolizantes, seria um passo significativo. No entanto, é crucial entender a motivação por trás dessa mudança. Não se trata de uma epifania libertária, mas de um cálculo político e econômico.

Primeiro, a realidade do mercado se impôs. Dezenas de estados americanos já legalizaram a maconha para uso medicinal ou recreativo, criando uma indústria bilionária e gerando vastas receitas de impostos. A manutenção da proibição federal criou uma esquizofrenia legal, onde um empresário que opera legalmente sob a lei de seu estado é, ao mesmo tempo, um criminoso federal. Essa situação é insustentável e um entrave para o desenvolvimento de um mercado que já existe de fato.

Segundo, a dimensão política é inegável. A legalização da maconha é uma pauta popular, especialmente entre os eleitores mais jovens e independentes. Ao sinalizar uma flexibilização, Trump busca neutralizar um tema tradicionalmente explorado pelo Partido Democrata, ao mesmo tempo em que acena para a ala mais libertária do eleitorado, que sempre viu a proibição como uma afronta à liberdade individual e aos direitos dos estados.

Contudo, a solução proposta pelo governo não é a liberdade, mas uma nova forma de controle. A reclassificação não acabaria com a intervenção federal, apenas a alteraria. Em vez de proibir, o Estado passaria a regular e, principalmente, a taxar. Abre-se a porta para a criação de mais uma camada de burocracia federal para supervisionar um mercado que deveria ser de competência exclusiva dos estados.

A verdadeira solução, sob a ótica da liberdade e da Constituição, não seria reclassificar a maconha, mas sim removê-la completamente da lista de substâncias controladas a nível federal, devolvendo aos estados a plena soberania para decidir sobre o assunto.

A avaliação de Trump, portanto, é um reconhecimento pragmático de que a guerra contra a maconha foi perdida. Mas a batalha contra a tendência do Estado de controlar, regular e taxar cada aspecto da vida do cidadão está longe de terminar.