A Ilusão da Industrialização: GWM inaugura fábrica em SP e consolida o avanço do capitalismo de Estado chinês no Brasil – Noticiário 24H
O início da produção na fábrica da Great Wall Motors (GWM) em Iracemápolis, São Paulo, foi celebrado pelo governo e por parte da imprensa como uma grande vitória para a indústria nacional. No entanto, por trás da propaganda de “geração de empregos” e “investimento”, a abertura da segunda grande fábrica de carros chineses no país é, na verdade, um sintoma da fragilidade da nossa economia e a consolidação de um modelo perigoso: a rendição do mercado brasileiro ao capitalismo de Estado da China.
É crucial entender que a GWM, assim como sua conterrânea BYD, não é uma empresa privada competindo em um mercado livre nos mesmos termos que as outras. Trata-se de um braço da estratégia geopolítica e econômica do Partido Comunista Chinês, uma corporação que se beneficia de subsídios estatais massivos, crédito barato e um apoio incondicional de seu governo. A capacidade dessas empresas de investir bilhões e de praticar uma política de preços agressiva não é fruto de uma eficiência superior, mas de uma concorrência desleal, uma forma de dumping que torna a competição para as montadoras que operam sob as regras do mercado (e do “Custo Brasil”) praticamente impossível.
O governo brasileiro, em vez de criar um ambiente de negócios que fortaleça a indústria nacional — através de reformas tributárias, desregulamentação e segurança jurídica —, opta pelo caminho mais fácil: o de estender o tapete vermelho para o capital estrangeiro subsidiado, oferecendo ainda mais incentivos fiscais para mascarar a ausência de um projeto de desenvolvimento real. A foto do político cortando a fita de inauguração serve para esconder a dura realidade de que estamos trocando uma indústria genuína pela instalação de meras linhas de montagem, dependentes da tecnologia e das peças que vêm da China.
A consequência a longo prazo dessa estratégia é a desindustrialização e a perda de soberania. Ao permitir que gigantes estatais chinesas dominem um setor estratégico como o automotivo, o Brasil se torna cada vez mais dependente de Pequim, não apenas economicamente, mas também tecnologicamente. Os empregos criados são, em sua maioria, de baixo valor agregado, enquanto as decisões estratégicas, a pesquisa e o desenvolvimento permanecem a milhares de quilômetros de distância.
Portanto, a celebração da nova fábrica da GWM é uma perigosa miopia. Não estamos assistindo a uma “reindustrialização” do Brasil, mas à sua transformação em uma plataforma de montagem para o projeto de poder chinês. A verdadeira vitória para o país não seria a inauguração de mais uma fábrica estrangeira subsidiada, mas a criação de condições para que uma empresa brasileira, com capital privado e sem a muleta do Estado, pudesse competir e prosperar nesse mesmo mercado.