A Ilusão do Concurso IBGE: Vale a pena entrar na corrida por um emprego temporário no Estado? – Noticiário 24H

Foi dada a largada para mais uma corrida que mobiliza milhões de brasileiros: a busca por uma vaga no Estado. O governo autorizou um Processo Seletivo Simplificado (PSS) para o IBGE com mais de 9.000 vagas temporárias, e a notícia foi recebida com a euforia de sempre. Mas, para além da promessa de um salário relativamente alto para o nível médio, a pergunta que precisa ser feita é: vale a pena? A resposta expõe a triste realidade da economia brasileira e a armadilha do emprego público.

Para o indivíduo, a resposta pode ser um relutante “sim”. Em um país onde a iniciativa privada é esmagada por impostos, burocracia e insegurança jurídica, e onde a inflação corrói o poder de compra, um contrato temporário com o governo, com salário definido e data para acabar, pode parecer um oásis de previsibilidade. É a escolha racional em um ambiente irracional.

No entanto, para o país como um todo, a resposta é um sonoro “não”. A gigantesca procura por essas vagas não é um atestado da qualidade do serviço público, mas sim um sintoma da falência do nosso modelo econômico. Ela revela uma nação onde a ambição de muitos jovens não é inovar, empreender ou criar valor no setor produtivo, mas sim garantir um posto, mesmo que temporário, na máquina estatal, financiado pelo dinheiro de quem produz.

O próprio formato do PSS é uma confissão da ineficiência do Estado. O IBGE, um órgão vital, precisa recorrer a contratações massivas e temporárias para realizar suas pesquisas, demonstrando a rigidez e a incapacidade do quadro permanente de se adaptar a demandas cíclicas. É um modelo que gera uma força de trabalho precarizada, sem plano de carreira e que será descartada ao final do contrato.

O que o governo oferece com essas 9.000 vagas não é uma solução para o desemprego, mas um paliativo custoso. Em vez de criar as condições para que a economia real gere 100.000 empregos permanentes e produtivos, o Estado opta por criar 9.000 postos temporários com o dinheiro dos impostos, aprofundando o ciclo de dependência.

Portanto, antes de celebrar a “oportunidade”, é preciso fazer a análise crítica. O concurso do IBGE é a febre que denuncia a doença de uma economia estagnada e de uma cultura que ainda vê o Estado como o grande provedor, e não como o grande obstáculo. Para o candidato, pode ser um alívio temporário. Para o Brasil, é a perpetuação de um modelo que nos condena ao atraso.