A Ilusão Estatística: Uma análise dos dados por trás da saída do Brasil do Mapa da Fome – Noticiário 24H
O governo e a imprensa celebraram com grande fanfarra a notícia de que o Brasil, mais uma vez, “saiu do Mapa da Fome” da ONU. A manchete é, sem dúvida, positiva e serve como uma poderosa peça de propaganda para a atual gestão. No entanto, uma análise fria dos dados e da metodologia por trás deste título revela uma realidade muito menos otimista: a de que o Brasil não resolveu o problema da fome, apenas o maquiou com uma massiva e insustentável injeção de dinheiro público.
Como jornalista, meu trabalho é verificar os dados. E os dados, presentes no relatório anual da ONU sobre o tema, “O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo” (SOFI), mostram que o critério técnico para “sair do Mapa da Fome” é ter menos de 2,5% da população em estado de subnutrição. Você pode consultar os dados globais diretamente no portal da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). O que a estatística de fato aponta é que o Brasil conseguiu, através da expansão de programas de transferência de renda como o Bolsa Família, garantir um mínimo calórico para que milhões de pessoas não fossem classificadas como subnutridas.
Isso não é uma vitória da economia ou da autonomia do cidadão. É a vitória do assistencialismo.
A saída do mapa não significa que as famílias agora têm segurança alimentar, acesso a alimentos de qualidade ou que saíram da pobreza. Significa apenas que o Estado transferiu dinheiro do contribuinte para garantir que a estatística de subnutrição caísse abaixo de um limiar arbitrário. Foi uma vitória comprada com gasto público, não conquistada com crescimento econômico e geração de empregos.
Enquanto o governo comemora a manchete, a realidade do brasileiro no supermercado é outra. A inflação dos alimentos continua a corroer o poder de compra, e o endividamento das famílias bate recordes. O mesmo Estado que celebra a saída do Mapa da Fome é o que, através de uma carga tributária brutal e de uma política econômica inflacionária, torna a “comida de verdade” cada vez mais cara e inacessível.
A metodologia da ONU, embora tecnicamente válida, é limitada e não captura a complexidade do problema. Ela mede o acesso a calorias, não a qualidade da nutrição ou a dignidade de uma família poder prover o próprio sustento sem depender de um auxílio estatal.
O que estamos testemunhando não é o fim da fome, mas a consolidação de um modelo de dependência. O governo não criou empregos ou um ambiente de negócios próspero que permitisse às famílias prosperar; ele simplesmente expandiu a distribuição de dinheiro público. É uma solução paliativa e fiscalmente irresponsável, cujo custo será pago por toda a sociedade através de mais impostos e mais inflação no futuro.
A saída do Mapa da Fome, portanto, não deve ser motivo de comemoração, mas de profunda preocupação. Ela mascara a fragilidade da nossa economia e celebra a dependência como se fosse uma virtude. A verdadeira vitória contra a fome só ocorrerá quando os brasileiros puderem se alimentar e sustentar suas famílias com o fruto de seu próprio trabalho em uma economia livre, e não com as migalhas distribuídas por um Estado cada vez maior e mais caro.