A Invasão Chinesa: GWM Tank 300 une luxo e off-road para seduzir elite, mas seu sucesso expõe a fragilidade do mercado nacional – Noticiário 24H
O sucesso de vendas do GWM Tank 300 no Brasil, um SUV híbrido plug-in que combina capacidade off-road extrema com um interior luxuoso, é muito mais do que um simples case de um bom produto. É o mais recente e audacioso capítulo da ofensiva estratégica de montadoras chinesas, fortemente subsidiadas por seu governo, sobre o mercado brasileiro. O veículo, em si, é um feito de engenharia, mas sua presença agressiva levanta sérias questões sobre a sustentabilidade e a justiça da concorrência no setor automotivo nacional.
A proposta do Tank 300 é sedutora: por R$ 339.000, oferece um pacote de tecnologia, potência (394 cv) e equipamentos de luxo (bancos de couro Nappa com massagem, som premium) que concorrentes ocidentais, como o Jeep Wrangler, só entregam em patamares de preço muito superiores. O texto da avaliação da CNN chega a afirmar que o modelo “não tem concorrência direta”, e essa é a chave da análise: ele não tem concorrentes porque a competição não ocorre em um campo de jogo nivelado.
O preço altamente competitivo de um veículo de quase 3 toneladas, repleto de tecnologia de ponta, só é possível através de uma estratégia industrial amparada por subsídios e incentivos do Estado chinês. O objetivo não é apenas o lucro, mas a conquista de fatias de mercado estratégicas em países emergentes como o Brasil. Trata-se de uma forma de dumping que distorce a livre concorrência, tornando impossível para empresas que operam sob a lógica capitalista de lucro e impostos competir de igual para igual.
Além disso, o Tank 300 explora com maestria a narrativa “verde”. Sendo um híbrido plug-in (PHEV), ele se beneficia da imagem de sustentabilidade e de potenciais vantagens fiscais. No entanto, a ideia de um “jipe ecológico” de 2,6 toneladas é um paradoxo. É o uso da agenda ambiental como uma ferramenta de marketing e, possivelmente, como um meio de se enquadrar em regulações que beneficiam veículos eletrificados, uma estratégia que expõe as falhas de políticas ambientais dirigidas pelo Estado.
O consumidor brasileiro, em um primeiro momento, pode se sentir beneficiado ao adquirir um veículo com tantos atributos por um preço relativamente baixo. Contudo, o custo a longo prazo dessa invasão subsidiada pode ser alto: a precarização ou a saída de montadoras tradicionais que geram empregos e pagam impostos no país, a dependência de uma indústria controlada por um regime estrangeiro e uma concorrência desleal que mina os princípios de um mercado verdadeiramente livre.
O GWM Tank 300 é, portanto, um produto impressionante que serve como um cavalo de Troia. Ele encanta pela tecnologia e pelo luxo, mas sua presença massiva no mercado é um sintoma preocupante da fragilidade da nossa economia diante de uma potência que joga com as regras do capitalismo de Estado.