A Moral Seletiva do Congresso: Conselho de Ética vira arma contra a oposição por ato já praticado por governistas – Noticiário 24H
Em um movimento que escancara a hipocrisia e o uso do Conselho de Ética como uma arma política, a presidência do colegiado anunciou que irá acelerar a análise de punições contra os deputados de oposição que ocuparam o plenário da Câmara. A manobra, vendida como uma defesa do “decoro parlamentar”, é, na verdade, um ato de intimidação que convenientemente ignora o vasto histórico de ações idênticas — e muitas vezes mais agressivas — praticadas por parlamentares de esquerda, que no passado foram toleradas e até celebradas como “atos de resistência democrática”.
A decisão de Leur Lomanto Júnior, presidente do Conselho, de pautar o tema na próxima semana atende a um desejo claro do comando da Casa: usar a estrutura do regimento para asfixiar e punir a oposição por táticas de obstrução que são parte do jogo político. O que está em julgamento não é o ato de ocupar o plenário, mas quem o ocupou.
É preciso ter memória. Invasões da Mesa Diretora, ocupações da tribuna por dias a fio e o uso da força física para impedir votações foram práticas recorrentes de partidos como PT e PSOL quando estavam na oposição. Naquelas ocasiões, a mesma imprensa e os mesmos analistas que hoje clamam por “punição exemplar” tratavam os atos como “manifestações legítimas da minoria”. O Conselho de Ética, por sua vez, raramente era acionado e, quando era, os processos se arrastavam até a total insignificância.
O que mudou? Apenas o lado que detém o poder. A atual liderança da Câmara demonstra que o Conselho de Ética não é um órgão de zelo pelo decoro, mas um tribunal de exceção para adversários. As regras são aplicadas com o máximo rigor contra os opositores e com a máxima complacência para os aliados. É a instrumentalização da lei para fins de perseguição política em sua forma mais explícita.
Essa política de “dois pesos, duas medidas” corrói a legitimidade do próprio Congresso. Quando as regras só valem para um lado, elas perdem o seu valor. A tentativa de punir a oposição por uma tática que a esquerda sempre usou e abusou não é um ato de moralidade, mas um ato de força que busca calar a dissidência e impor uma hegemonia através da intimidação.
A sociedade assiste, mais uma vez, a um espetáculo onde os princípios são flexíveis e a moral, conveniente. A “defesa do decoro” anunciada pelo Conselho de Ética nada mais é do que a oficialização da hipocrisia como método de governança parlamentar.