A Salvação do Açaí: Governo recua de edital bizarro que proibia comida paraense na COP de Belém – Noticiário 24H
Em um episódio que beira o surreal e expõe a profunda ignorância da burocracia de Brasília sobre o Brasil real, o governo federal foi forçado a recuar e rever um edital de licitação para a COP30, em Belém, que proibia explicitamente o fornecimento de açaí, tucupi e outros ícones da culinária paraense no evento. A proibição, que só foi derrubada após a intervenção direta do Ministro do Turismo, Celso Sabino, é a mais perfeita metáfora de um Estado que pretende “salvar a Amazônia” sem sequer conhecer sua cultura mais básica.
A bizarrice do edital original é um atestado da mentalidade do planejador central. Em nome de um suposto “padrão internacional”, os burocratas que redigiram o documento decidiram que os sabores autênticos da Amazônia não eram adequados para a elite global que desembarcará em Belém para discursar sobre a importância da floresta. É a lógica de uma elite que ama a Amazônia nos relatórios de ONGs e nos discursos em Davos, mas que, na prática, prefere um cardápio genérico e pasteurizado à riqueza da cultura local.
A necessidade de uma intervenção ministerial para garantir que se possa servir açaí em Belém seria cômica se não fosse trágica. Ela revela a existência de uma casta burocrática tão isolada em Brasília que é capaz de produzir uma regra que proíbe o peixe frito com açaí em um evento na capital do Pará. Não é apenas um erro técnico; é um sintoma de um profundo desprezo pela cultura popular e pela economia local, que tem no açaí e no tucupi não apenas alimentos, mas símbolos de identidade e fontes de renda para milhares de famílias.
O recuo do governo, após a repercussão negativa e o constrangimento público, não deve ser visto como uma vitória da sensatez, mas como a prova de que a única linguagem que a burocracia entende é a da pressão política. A pergunta que fica é: se um erro tão primário e grotesco como este foi cometido em um edital público, o que mais não está sendo decidido a portas fechadas, por planejadores que não têm a menor ideia da realidade do país que pretendem governar?
A “crise do açaí” na COP30 é, portanto, muito mais do que uma anedota. É a demonstração de que a maior ameaça à Amazônia e ao Brasil pode não ser o desmatamento, mas a arrogância de uma elite estatal que acredita saber o que é melhor para o povo, mesmo que isso signifique proibir o açaí em plena Belém do Pará.