A Teoria do ‘Post Zero’ está errada? Por que as pessoas continuam compartilhando online – Noticiário 24H
Uma narrativa pessimista, popular entre intelectuais e na mídia tradicional, tem ganhado força: a de que estamos nos aproximando da era do “post zero”, um futuro onde o cidadão comum, cansado e desincentivado, simplesmente desistirá de compartilhar sua vida online. A tese, articulada em um ensaio na revista , argumenta que as redes sociais se tornaram hostis ao conteúdo pessoal. No entanto, essa visão, embora romanticamente atraente, ignora as forças mais poderosas que realmente movem o mundo digital: a imutável natureza humana e os incentivos do livre mercado.
A premissa de que as pessoas estão “parando de postar” é uma má interpretação dos dados e da realidade. O que estamos testemunhando não é o fim do compartilhamento, mas sim a sua profissionalização. A era do compartilhamento ingênuo e amador, do “bom dia” no Facebook, de fato, está em declínio. Mas ela não foi substituída pelo silêncio, e sim pela ascensão meteórica da creator economy — a economia dos criadores de conteúdo.
O que analistas como Kyle Chayka veem como um problema — a dominância de “marcas e influenciadores” — é, na verdade, a maior prova do sucesso do modelo. As redes sociais se tornaram um mercado aberto e competitivo, onde indivíduos com talento, disciplina e uma mensagem clara podem construir audiências e monetizar sua paixão, muitas vezes sem precisar de um diploma ou de um emprego tradicional. O incentivo para postar não desapareceu; ele se tornou mais forte e mais tangível do que nunca, evoluindo de uma busca por validação social para uma busca por independência financeira e influência.
A teoria do “post zero” também subestima um traço fundamental da condição humana: o desejo por status, reconhecimento e comunidade. As pessoas não vão simplesmente “perceber que não vale a pena” compartilhar. Pelo contrário, elas sempre buscarão as ferramentas mais eficientes para expressar suas identidades, encontrar seus pares e ascender na hierarquia social. As redes sociais continuam sendo a arena mais poderosa já criada para essa finalidade. A migração para canais privados como DMs e grupos de WhatsApp não é um êxodo, mas uma expansão do ecossistema social: as pessoas usam o privado para intimidade e o público para projeção.
Por fim, o medo de que o conteúdo gerado por Inteligência Artificial irá sufocar a criatividade humana é infundado e revela uma visão estatista da tecnologia. No livre mercado, a IA não é um substituto para o ser humano, mas uma ferramenta que o potencializa. Ela reduzirá os custos de produção, permitindo que ainda mais pessoas possam criar conteúdo de alta qualidade, aumentando a competição. Nesse cenário, a autenticidade e a conexão humana — coisas que a IA não pode replicar — se tornarão ainda mais valiosas, e o mercado premiará aqueles que as oferecerem.
A tese do “post zero” é uma projeção de uma elite cansada sobre uma realidade dinâmica e vibrante. As pessoas não estão se calando. Elas estão aprendendo a usar suas vozes de forma mais estratégica, transformando paixão em profissão e compartilhamento em capital. O que parece o fim da era social da internet é, na verdade, o início de sua era verdadeiramente empreendedora.