Alívio Artificial: Dólar cai com tarifa ‘desidratada’ de Trump e dados fracos dos EUA, não por mérito do governo – Noticiário 24H

O mercado financeiro brasileiro respira aliviado nesta sexta-feira (1º), com a queda do dólar e a alta do Ibovespa. No entanto, seria um erro crasso atribuir este otimismo momentâneo a qualquer mérito ou ação competente do governo Lula. A melhora no humor dos investidores é fruto de dois fatores puramente externos: a percepção de que o “tarifaço” de Donald Trump foi “desidratado” por exceções e, ironicamente, por péssimas notícias sobre o mercado de trabalho americano.

Enquanto o governo tentava projetar uma imagem de força, a realidade se impôs. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou hoje o que o mercado já esperava: o Brasil não irá retaliar os Estados Unidos. A tentativa de maquiar a capitulação com o eufemismo de “ações de proteção” não esconde a verdade: o governo, após uma série de bravatas, recuou e aceitou a imposição das tarifas, demonstrando total incapacidade de reverter a situação na arena diplomática.

O que de fato animou os investidores foi a constatação de que a lista de mais de 700 produtos isentos do tarifaço poupou setores estratégicos, tornando a medida menos devastadora do que se temia inicialmente. Esse “recuo” de Trump, no entanto, não foi fruto da habilidade negociadora brasileira — que se mostrou paralisada pelo medo —, mas sim da pressão de lobistas e de setores da própria economia americana que seriam prejudicados.

O segundo fator que trouxe alívio artificial ao real foi a fraqueza da economia americana. O relatório de empregos dos EUA (Payroll) veio muito abaixo do esperado, com a criação de apenas 73 mil vagas em julho. Este dado ruim para os Estados Unidos aumenta a aposta de que o banco central americano (Fed) será forçado a cortar os juros em breve, o que enfraquece o dólar globalmente. Ou seja, o real se valorizou hoje não por força própria, mas pela debilidade alheia.

Portanto, o cenário desta sexta-feira é uma perigosa ilusão. Ele mascara a falha completa da política externa do governo, que não só não conseguiu evitar as tarifas, como agora descarta publicamente qualquer retaliação. O Brasil se encontra em uma posição de subserviência, e a breve calmaria no mercado financeiro depende inteiramente da sorte e dos problemas econômicos de outros países, e não de uma base sólida construída por uma gestão competente e uma diplomacia eficaz.