Às vésperas de ‘tarifaço’, Brasil endurece o tom contra Trump e acelera busca por alianças com China e Europa – Noticiário 24H
Com o relógio correndo para a entrada em vigor de um “tarifaço” de 50% sobre produtos brasileiros na próxima sexta-feira (1º), o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva elevou o tom contra a ameaça de Donald Trump e intensificou uma ofensiva diplomática e comercial para mitigar os danos, acelerando a aproximação com o bloco dos Brics e a Europa.
Em uma entrevista de rara dureza ao jornal britânico Financial Times, Celso Amorim, principal assessor de política externa de Lula, classificou a atitude do presidente americano como uma tentativa de interferência em assuntos internos brasileiros sem precedentes, “nem em tempos coloniais”. Segundo Amorim, a ameaça de Trump, atrelada à situação judicial do ex-presidente Jair Bolsonaro, é uma chantagem. “Nem a União Soviética teria feito algo assim”, disparou, acusando o republicano de agir politicamente no Brasil em favor de “seu amigo”.
A ofensiva diplomática vem acompanhada de uma clara movimentação estratégica. Amorim reafirmou ao jornal que, diante da pressão de Washington, o Brasil irá aprofundar sua participação no Brics (bloco com China, Rússia, Índia e África do Sul). “O que está acontecendo está reforçando nossas relações com os Brics, porque queremos diversificar e não depender de nenhum país só”, declarou, ressaltando que o governo também busca ratificar o acordo comercial entre Mercosul e União Europeia.
Enquanto a diplomacia atua em várias frentes, a negociação direta com a Casa Branca parece paralisada. Na última sexta-feira (25), Lula afirmou que Trump foi “induzido a acreditar em uma mentira” sobre a perseguição a Bolsonaro e se colocou à disposição para conversar, indicando o vice-presidente Geraldo Alckmin como negociador. O governo, no entanto, reclama da falta de canais de diálogo, e a percepção em Brasília é de que a entrada em vigor das tarifas é quase inevitável.
O impasse expõe também as divisões na política interna. Governadores de oposição, como Tarcísio de Freitas (SP) e Ratinho Jr. (PR), criticaram a estratégia do governo federal. Em um evento de investidores, Ratinho Jr. classificou a fala de Lula sobre a “desdolarização” do comércio como “falta de inteligência”, argumentando que a relação comercial com os EUA é mais importante.
Para Celso Amorim, a postura do presidente americano é errática e baseada em caprichos. “Países não têm amigos, têm interesses; mas Trump não tem nem amigos nem interesses, só desejos”, concluiu.