Do Piauí para o Mundo: Tarifa de Trump freia exportação de mel para os EUA e acelera expansão brasileira na Europa e Ásia – Noticiário 24H
A imposição de uma sobretaxa de 50% por Washington reteve o embarque de 152 toneladas do produto nos últimos 15 dias. Em resposta, o Grupo Sama, um dos maiores exportadores do país, intensifica uma robusta estratégia de diversificação de mercados, alavancada pela alta qualidade e apelo sustentável do mel orgânico nordestino.
A mais recente ofensiva protecionista do governo de Donald Trump, que impôs uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, criou um gargalo imediato para um dos setores mais elogiados do agronegócio nacional: a apicultura. Nos últimos 15 dias, 152 toneladas de mel do Piauí deixaram de ser embarcadas para os Estados Unidos. Contudo, o que poderia ser o início de uma crise está se revelando um catalisador para uma ousada aceleração da estratégia de expansão global liderada pelo Grupo Sama, um dos maiores exportadores do país.
Em vez de aguardar uma reversão da medida, a companhia piauiense está se articulando para fortalecer e ampliar sua presença em mercados que valorizam a estabilidade e a qualidade do produto. O foco está voltado para a Europa, com países como Alemanha, Holanda, Bélgica e Dinamarca, e para novos horizontes na Ásia e América do Norte, incluindo Japão, China, Emirados Árabes e Canadá.
A confiança para essa manobra vem da força do próprio produto. O mel brasileiro, especialmente o orgânico certificado produzido no Piauí, goza de prestígio e demanda internacional que supera a oferta. “Temos um produto com demanda global, produzido com práticas sustentáveis e qualidade reconhecida. Por isso, estamos ampliando nosso alcance e avaliando alternativas estratégicas à suspensão temporária de pedidos por parte de clientes norte-americanos”, declarou Samuel Araujo, CEO do Grupo Sama.
Embora os contratos com os compradores dos EUA não tenham sido cancelados, a reorganização logística para novos destinos já está em curso. O mercado europeu, segundo o setor, tem se mostrado particularmente receptivo a ampliar as importações, buscando alimentos com origem rastreável e impacto socioambiental positivo — características que o mel nordestino atende com excelência.
O impacto em uma cadeia de 12 mil produtores
A estratégia do Grupo Sama não visa apenas proteger os resultados da empresa, mas sustentar uma vasta cadeia produtiva. Fundada há 28 anos em Oeiras (PI), a companhia é o elo que conecta a produção de mais de 12 mil micro e pequenos apicultores do Nordeste — principalmente do Piauí, Ceará, Maranhão e Bahia — ao mercado global.
“Temos uma posição consolidada nos Estados Unidos, mas estamos igualmente preparados para ampliar nossa atuação internacional, garantir o fluxo de caixa dos apicultores parceiros e sustentar a operação”, explicou Araújo, ressaltando a responsabilidade social da empresa.
Para o CEO, o momento, embora desafiador, reforça a necessidade de diversificação que o grupo já vinha planejando. A barreira imposta pelo principal parceiro comercial acabou por acelerar um movimento que pode, a longo prazo, tornar o setor ainda mais resiliente e menos dependente de um único mercado, consolidando o mel brasileiro como um produto de elite no cenário mundial.