Faro que Salva Vidas: Como cães de serviço são treinados para ‘cheirar’ crises de diabetes antes que elas aconteçam – Noticiário 24H
Uma distração na rotina, como esquecer de comer ou tomar um remédio, pode ser uma situação de alto risco para uma pessoa com diabetes. Foi o que aconteceu com a gerente financeira Raphaelle Almada Pinheiro, mas as consequências não foram graves graças a um guardião atento e de quatro patas: seu cão de serviço, treinado para detectar alterações na sua glicemia.
“Me descuidei da medicação e ele detectou que minha glicemia estava descontrolada. Ele começou a chamar minha atenção de uma forma mais insistente que o normal”, conta Raphaelle. O caso dela ilustra uma área da ciência e do adestramento que tem transformado vidas: o uso de cães de alerta médico.
A Ciência por Trás do Faro
O superpoder desses cães está em seu olfato, milhares de vezes mais sensível que o humano. Bruno Benetti Torres, chefe do Departamento de Medicina Veterinária da UFG, explica que, durante uma crise de hipo ou hiperglicemia, nosso corpo sofre alterações metabólicas e libera compostos químicos específicos através do suor, saliva ou hálito.
“Essas mudanças criam uma ‘assinatura de odor’ química distinta, imperceptível aos humanos, mas altamente detectável pelos cães”, afirma Torres. Isso permite que o animal perceba a crise de 15 a 20 minutos antes do início dos sintomas ou de um aparelho de monitoramento apitar.
O Treinamento de um Herói
Essa habilidade não é inata; é o resultado de um treinamento intenso que dura de cinco a oito meses, preferencialmente iniciado quando o cão ainda é um filhote. Renata Boragini Rodrigues, treinadora e fundadora da ONG Service Dog Brasil, explica o processo:
- Seleção: Cães com temperamento dócil e focado são escolhidos. Raças como Labrador, Golden Retriever e Poodle são comuns, mas qualquer cão pode ser treinado.
- Associação de Odor: Amostras de saliva e suor do tutor, coletadas durante uma crise real, são usadas para ensinar o cão a associar aquele cheiro específico a uma recompensa.
- Sinal de Alerta: O cão aprende a sinalizar o tutor ao detectar o odor. Os alertas são claros e insistentes: tocar com a pata ou focinho, trazer um brinquedo específico ou, em casos de emergência, latir sem parar para chamar a atenção de outras pessoas.
O tutor também passa por um treinamento para aprender a interpretar os sinais de seu cão e a cuidar do animal, criando uma parceria baseada na confiança mútua.
Uma Nova Vida com Mais Segurança
Para quem convive com um cão de serviço, a mudança na qualidade de vida é profunda. “A convivência com o cão fez toda a diferença. Tenho total controle da glicemia e me sinto mais segura para trabalhar, viajar e ter uma vida social normal”, relata Raphaelle.
A treinadora Renata Boragini recorda casos em que os cães foram literalmente vitais. “Houve um caso em que o tutor estava viajando e passou mal dormindo. O cão iniciou os alertas e, sem sucesso, começou a latir insistentemente, chamando a atenção de funcionários do hotel, que encontraram o tutor já desmaiado”, conta.
Esses animais representam uma fusão notável entre a ciência do adestramento e a incrível capacidade canina, oferecendo independência, segurança e uma companhia leal para pessoas que vivem com condições médicas crônicas.