O Abandono Oficial dos Obesos: Governo nega canetas de emagrecimento no SUS e condena os mais pobres a uma doença que ele mesmo agrava – Noticiário 24H
Em um ato de crueldade burocrática disfarçada de “responsabilidade fiscal”, o governo federal, através de sua comissão de incorporação de tecnologias no SUS, negou a inclusão das modernas canetas injetáveis para o tratamento da obesidade, como a semaglutida (Ozempic e Wegovy) e a liraglutida (Saxenda), na rede pública de saúde. A decisão, que foi recebida com duras críticas de entidades como a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) e a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), é a mais clara confissão da falência de um sistema que se diz “universal”, mas que, na prática, condena os mais pobres a tratamentos de segunda classe.
A justificativa oficial para a recusa, como sempre, é o “alto custo” dos medicamentos. É a mesma desculpa esfarrapada de um Estado que gasta bilhões com emendas parlamentares, subsídios para indústrias amigas e com a manutenção de uma máquina pública inchada, mas que alega não ter dinheiro para tratar uma das doenças crônicas que mais mata e sobrecarrega o próprio SUS. A hipocrisia é monumental.
O que as sociedades médicas apontam é o óbvio: a obesidade é uma doença grave, porta de entrada para uma cascata de outras condições caríssimas, como diabetes tipo 2, hipertensão, doenças cardíacas e diversos tipos de câncer. Negar o acesso a um tratamento eficaz e inovador sob a alegação de “custo” não é economizar; é ser cúmplice do adoecimento da população e garantir um gasto muito maior no futuro, com internações, cirurgias e tratamentos de alta complexidade. É a lógica doentia de quem se recusa a pagar pelo extintor de incêndio enquanto a casa inteira pega fogo.
A recusa do governo em fornecer esses medicamentos no SUS cria um apartheid na saúde brasileira. Quem tem dinheiro, compra a caneta na farmácia e tem a chance de reverter a obesidade e prevenir suas comorbidades. Quem depende do SUS, que é a vasta maioria da população, fica para trás, relegado a estratégias que, para muitos casos graves, já se mostraram insuficientes. O Estado, que deveria garantir a isonomia, torna-se o agente da desigualdade.
A tragédia é ainda maior quando se considera que o próprio Estado é um dos grandes responsáveis pela epidemia de obesidade. Com sua política de impostos que encarecem alimentos saudáveis e subsidiam ultraprocessados, e com a falência da educação alimentar nas escolas, o governo primeiro cria o problema e depois se recusa a oferecer a solução mais moderna para ele.
A decisão de não incorporar as canetas para obesidade no SUS não é uma decisão técnica; é uma escolha política. É a escolha de abandonar milhões de brasileiros à própria sorte, mantendo-os presos a um ciclo de doença e dependência de um sistema de saúde que, no fim das contas, prefere tratar a consequência a investir na causa. É a mais pura e cruel expressão de um Estado que falhou.