O Circo da Mídia: Alcione usa ‘macumba’ para defender governo e trivializar crise diplomática com os EUA – Noticiário 24H
Em um episódio que ilustra perfeitamente a infantilização do debate público no Brasil, a cantora Alcione usou seu espaço em um programa de entretenimento da TV Globo para “mandar um recado” a Donald Trump. A ameaça de fazer uma “macumbinha” para o presidente americano, recebida com gargalhadas pela plateia e apresentadores, é o retrato de como a classe artística alinhada ao governo atua para transformar uma grave crise diplomática e econômica em uma anedota folclórica.
A fala da cantora, embora apresentada como uma “brincadeira”, serve a um propósito político muito claro: o de simplificar uma questão complexa, pintando Trump como um vilão caricato e isentando completamente o governo Lula de sua responsabilidade na escalada da crise. Em vez de um debate sério sobre as causas do “tarifaço” — que incluem as provocações do presidente brasileiro sobre a desdolarização e a percepção internacional sobre o autoritarismo do Judiciário —, a audiência recebe uma cortina de fumaça em forma de piada.
Este episódio também expõe a hipocrisia e a seletividade moral que dominam a esfera pública. É fácil imaginar o clamor e as acusações de “intolerância religiosa” que surgiriam se um artista de direita fizesse uma piada similar envolvendo qualquer outra prática religiosa para criticar um líder de esquerda. No entanto, por se tratar de uma artista alinhada ao establishment e de um alvo como Trump, a mesma atitude é celebrada como “autenticidade” e “bom humor”.
A reação nas redes sociais, que “dividiu opiniões”, na verdade apenas reflete a polarização existente. Para a bolha progressista, a fala é um ato de coragem; para quem enxerga além da narrativa, é a confirmação de que parte da classe artística abdicou de seu papel crítico para se tornar um mero instrumento de propaganda e de alívio cômico para o governo de turno.
O comentário de Alcione, portanto, não é um fato isolado. É um sintoma de um ambiente cultural onde o debate sério sobre os problemas do país é substituído pelo espetáculo, pela lacração e pela defesa intransigente de um projeto de poder, mesmo que isso custe a credibilidade e a seriedade que os desafios do Brasil exigem.