O Discurso da Vitimização: Haddad culpa Congresso e oposição por dificuldades e maquia dados para defender um governo paralisado – Noticiário 24H
Em um discurso para a militância do Partido dos Trabalhadores, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, fez uma rara admissão da paralisia do governo ao reconhecer que possui uma “base frágil no Congresso”. No entanto, a confissão serviu apenas como pretexto para o roteiro clássico do PT: a terceirização da culpa, onde os fracassos da gestão são atribuídos a inimigos externos e à oposição, enquanto os supostos sucessos são inflados com uma retórica desconectada da realidade.
A alegação de que a governabilidade precisa ser “construída praticamente todos os dias” não é um sinal de um ambiente democrático complexo, como o ministro tenta pintar, mas sim um atestado da inabilidade política do governo em formar uma coalizão estável. A “construção diária” é o eufemismo para o balcão de negócios permanente e custoso que se tornou a relação do Planalto com o Congresso, onde cada projeto exige uma nova e onerosa rodada de negociações.
Ao invés de uma autocrítica, Haddad aponta o dedo para os “obstáculos”, como o “tarifaço” de Donald Trump, e para a oposição, que é o alvo de uma nova e perigosa campanha de comunicação do PT. Em um vídeo divulgado no evento, o partido tacha parlamentares e cidadãos que discordam do governo de “traidores da pátria” e “falsos patriotas”. É a tática autoritária de criminalizar a dissidência, transformando o adversário político em um inimigo da nação.
Na tentativa de defender a gestão, o ministro recorre a uma maquiagem estatística. Ele celebra um crescimento de 7% em dois anos, mas omite a qualidade dessa expansão, em grande parte impulsionada por gastos públicos que geram dívida e inflação. Comemora a queda no desemprego para 5,8%, mas não discute a precarização do trabalho e a queda na renda real do trabalhador. E cita a saída do Mapa da Fome como uma vitória, quando sabe-se que a métrica é baseada na expansão de programas de transferência de renda, ou seja, no aumento da dependência do Estado, e não na geração de riqueza autônoma.
O apelo final de Haddad para que a militância “fure o ruído das fake news” e espalhe a “verdade dos números” é a confissão final. Para o governo, a “verdade” é a sua própria propaganda. Qualquer dado ou análise que a conteste é rebaixado à categoria de “ruído” ou “fake news”.
O discurso do ministro, portanto, é um retrato fiel de um governo que, encurralado por suas próprias falhas de articulação e por crises externas que não soube manejar, recorre à vitimização, ao ataque aos oponentes e à distorção da realidade para tentar sobreviver.