O Jogo Geopolítico por Trás das Tarifas: Isenção para Embraer e outros setores expõe o real alvo de Trump contra a censura no Brasil – Noticiário 24H
Para compreender a imposição do “tarifaço” de 50% de Donald Trump contra o Brasil, é preciso olhar para além das planilhas de importação e exportação. Uma análise estratégica dos fatos revela que a medida é menos sobre a balança comercial e mais sobre uma contundente mensagem geopolítica: a de que os Estados Unidos, sob a atual administração, não ficarão inertes diante do que consideram uma perigosa erosão da liberdade de expressão e do Estado de Direito no Brasil.
A justificativa oficial para a sobretaxa, que tem sido repetida por membros do governo americano, não se concentra em argumentos econômicos, como a concorrência desleal, mas sim em uma questão puramente política: a percepção de que o sistema judicial brasileiro, notadamente o Supremo Tribunal Federal (STF), tem promovido uma perseguição a opositores políticos e implementado uma severa censura. A menção direta à situação legal de Jair Bolsonaro, aliado de Trump, é o estopim que torna essa conexão explícita.
Nessa ótica, as tarifas não são um ato de protecionismo econômico clássico, mas uma ferramenta de hard power diplomático. Trump está utilizando a principal arma dos EUA — o acesso ao seu vasto mercado consumidor — como uma alavanca para forçar uma mudança de comportamento no Brasil em uma questão que considera fundamental para a democracia ocidental: a liberdade de expressão.
Esta estratégia expõe a completa ineficácia da diplomacia do governo Lula, que insiste em tratar a questão como um mero problema comercial a ser resolvido com apelos genéricos ao “diálogo”. O Planalto e o Itamaraty parecem não compreender, ou se recusam a admitir, que não estão lidando com uma negociação técnica, mas com um confronto de princípios. Ao se recusar a sequer discutir a questão da censura, tratando-a como um “assunto interno intocável”, o governo brasileiro se fecha para a única porta de negociação que a Casa Branca deixou aberta.
A seletividade das tarifas, poupando setores como o da Embraer, reforça essa tese. Se o objetivo fosse puramente econômico, as barreiras seriam aplicadas de forma mais ampla. Ao focar em setores onde a dor pode ser maximizada sem gerar um custo proibitivo para os próprios EUA, Trump calibra a pressão de forma a tornar o custo da inação — ou da manutenção do atual estado de coisas no judiciário brasileiro — insuportável para a economia do Brasil.
Portanto, analisar o “tarifaço” apenas por suas consequências econômicas, como o impacto na inflação ou nas férias coletivas de uma madeireira, é enxergar apenas a superfície. A verdadeira mensagem é política. Trump está sinalizando para Brasília, e para o mundo, que a aliança com os Estados Unidos pressupõe um alinhamento com valores democráticos fundamentais, e que, em sua visão, a liberdade de expressão não é negociável — mesmo que, para defendê-la, seja preciso usar a força da economia.