O ‘Problema’ que é Solução: Santa Catarina despreza Enem e expõe o sucesso de um sistema educacional descentralizado – Noticiário 24H

Dados recém-divulgados pelo Ministério da Educação (MEC) foram recebidos com a previsível lamentação pela burocracia de Brasília e pela imprensa: pelo segundo ano seguido, Santa Catarina tem o menor percentual de alunos da rede pública inscritos no Enem. No entanto, o que é apresentado como um “problema” ou uma “baixa adesão” é, na verdade, um raro e poderoso indicador de sucesso e liberdade no caótico cenário da educação brasileira.

Os números são claros: enquanto a média nacional de concluintes do ensino médio público inscritos no exame é de 72%, e estados como o Ceará registram uma dependência quase total do modelo, com 96,8% de adesão, Santa Catarina destoa com apenas 56%. Essa suposta “falha” catarinense, na verdade, expõe a força de um ecossistema educacional onde os estudantes não são reféns de um único e monolítico exame federal.

A própria Secretária de Estado da Educação, Luciane Ceretta, em sua justificativa, entrega a chave da análise: Santa Catarina possui uma rede robusta de instituições comunitárias (no sistema Acafe) e privadas que utilizam vestibulares próprios, oferecendo aos jovens múltiplas portas de entrada para o ensino superior. A decisão de um estudante de não se inscrever no Enem não é um ato de desinteresse pelos estudos, mas uma escolha racional por um caminho mais direto e alinhado aos seus objetivos, um luxo que não existe em estados mais dependentes das estruturas federais.

O que os dados do MEC realmente mostram é um contraste de modelos. De um lado, estados com altíssima adesão ao Enem revelam uma fragilidade: a ausência de um mercado local de ensino superior forte o suficiente para oferecer alternativas viáveis, tornando o governo federal o ator dominante. Do outro, Santa Catarina demonstra que, onde há um ambiente com mais opções e concorrência, a dependência do sistema central diminui naturalmente.

A fala da secretária sobre a necessidade de um “processo de sensibilização” para que os alunos entendam a importância do Enem é um sintoma clássico do pensamento estatista: quando o cidadão faz uma escolha livre que não agrada ao planejador central, a culpa é do cidadão, que precisa ser “conscientizado”. A verdade é o oposto: a escolha dos estudantes é um sinal de mercado, um recado de que o modelo unificado do Enem pode não ser a solução mais eficiente para a realidade deles.

Portanto, em vez de lamentar os números, o Brasil deveria estudar o “problema” de Santa Catarina. Ele revela que a descentralização, a concorrência e a liberdade de escolha são os verdadeiros motores de um sistema educacional resiliente e soberano. O estado não é um caso de insucesso a ser corrigido com propaganda estatal, mas um vislumbre de um caminho mais livre para a educação brasileira.