O som do passado: a história do bip que antecipou os mensageiros digitais – Noticiário 24H
Antes da era dos aplicativos de mensagens instantâneas, muito antes de WhatsApp ou mesmo dos primeiros celulares, um pequeno aparelho dominava a comunicação rápida entre pessoas: o pager. No Brasil, ele ficou mais conhecido como “bip” — nome inspirado no som que emitia ao receber uma mensagem.
Na década de 1980, o pager já contava com cerca de 3,2 milhões de usuários ao redor do mundo. Esse número cresceu até que os celulares se tornaram mais acessíveis, o que marcou o início do fim desse símbolo tecnológico do século 20. Embora muitos acreditem que os bipes tenham surgido nos anos 1980, os primeiros protótipos remontam à década de 1920, usados inicialmente em operações policiais nos Estados Unidos.
Como funcionava o bip
O pager operava como um receptor de sinais de rádio. Ao receber uma mensagem, emitia um som característico — o “bip” — e, em alguns modelos, vibrava. O conteúdo da mensagem variava conforme o modelo: os mais simples exibiam apenas números, enquanto os mais modernos conseguiam mostrar textos curtos.
Durante muito tempo, a principal função do bip era notificar o usuário de que alguém queria falar com ele. Os pagers numéricos mostravam o número de telefone que deveria ser contatado. Já os modelos alfanuméricos, que surgiram depois, podiam exibir mensagens curtas e até mesmo aceitar recados enviados por e-mail.
Códigos secretos e criatividade na comunicação
Com a limitação de enviar apenas números, usuários criaram códigos próprios para transmitir mensagens codificadas. Uma das combinações mais conhecidas era “143”, que significava “I love you” (1 letra para “I”, 4 para “love” e 3 para “you”). Hospitais e empresas também padronizaram códigos para agilizar a comunicação em situações críticas.
A ascensão e queda do pager
Apesar de seu auge ter sido nas décadas de 1980 e 1990, o pager teve seu primeiro grande passo em 1949, quando Al Gross desenvolveu um dos primeiros dispositivos de comunicação pessoal sem fio. Mas foi apenas em 1964 que a Motorola lançou o “Pageboy I”, primeiro modelo voltado ao público em geral, com alerta sonoro, mas sem exibição de mensagens.
Pouco tempo antes, o Bellboy, da Bell System, já era usado por médicos e profissionais como serviço sob assinatura. No Brasil, o bip chegou com força total nos anos 1990, sendo amplamente utilizado por médicos, empresários e até adolescentes.
Entretanto, com o avanço dos celulares e, posteriormente, dos smartphones, o pager perdeu seu espaço. A Motorola anunciou a descontinuação da produção em 2001.
Ainda há bipes funcionando?
Sim, mas poucos. Em 2021, ainda existiam cerca de 2 milhões de aparelhos em uso no mundo — muitos deles em setores como saúde, onde a confiabilidade dos sinais de rádio ainda é valorizada. Contudo, trata-se de uma tecnologia em extinção.
De símbolo de status a relíquia nostálgica, o pager marcou uma geração que viveu a transição entre os tempos analógicos e digitais. E, para muitos, o som do “bip” ainda ecoa como uma lembrança de uma era em que a comunicação era simples, rápida — e surpreendentemente silenciosa.