Plumpy’Nut: o alimento que poderia salvar crianças em Gaza, mas é barrado por má gestão, política e omissão internacional – Noticiário 24H
Criada em 1996 pelo pediatra francês André Briend, a Plumpy’Nut foi o primeiro Alimento Terapêutico Pronto para Uso (RUTF) — uma pasta à base de amendoim com cerca de 500 calorias e 13g de proteína, além de açúcar e micronutrientes essenciais.
Embalada em sachês de alumínio, não precisa de refrigeração, dura até dois anos e já salvou milhões de crianças da desnutrição extrema em áreas de guerra e catástrofes.
No entanto, em Gaza, onde ao menos 63 mortes por desnutrição foram registradas em julho (incluindo 24 crianças menores de 5 anos, segundo a OMS), esse alimento vital está preso no jogo político e ideológico.
Um produto que salva vidas, mas que não chega a quem precisa
Desde sua criação, outros fabricantes entraram no mercado, como as americanas Mana e Edesia. Estudos da Universidade de Washington mostram que os RUTF aumentam a taxa de sobrevivência de crianças com desnutrição aguda grave de menos de 25% para cerca de 90%.
“O RUTF contém todos os nutrientes essenciais para a recuperação. É fácil de transportar, extremamente denso em energia e não precisa de água limpa ou cadeia fria”, explica Steve Collins, fundador do grupo Valid Nutrition.
Mas, apesar de sua eficácia, a Plumpy’Nut e similares enfrentam bloqueios na entrada em Gaza e falhas na logística global. Parte disso se deve a cortes de financiamento, inclusive por decisão dos EUA, que durante o governo Donald Trump reduziram o orçamento da USAID — órgão que respondia por 40% da ajuda humanitária mundial.
O problema se agravou com a falta de pressão da ONU sobre o Hamas e Israel para garantir corredores humanitários seguros. Hoje, apenas quatro centros de distribuição estão ativos para atender 2 milhões de pessoas.
O papel do Hamas e a omissão da ONU
A ONU frequentemente culpa exclusivamente Israel pelos bloqueios, mas evita abordar o controle e desvio de ajuda humanitária pelo Hamas. Relatórios independentes e denúncias de ONGs indicam que parte dos suprimentos é confiscada e revendida no mercado paralelo, enquanto famílias continuam sem acesso à comida.
Além disso, a ONU mantém um sistema burocrático lento e politizado para liberação de ajuda, permitindo que caminhões com Plumpy’Nut fiquem parados nas fronteiras por dias ou semanas, muitas vezes se deteriorando.
O resultado é um cenário de tragédia anunciada: crianças morrendo por inanição não apenas por causa da guerra, mas também por causa de má gestão, corrupção e interesses políticos que transformam a fome em arma.
Análise:
Essa crise é um retrato cruel de como Estados e organismos internacionais falham quando a política se sobrepõe à vida. Em vez de garantir que alimentos cheguem às crianças, líderes preferem proteger narrativas, culpar adversários seletivamente e manter estruturas de poder. O resultado é o mesmo: morte evitável e uma indústria da “ajuda humanitária” que alimenta a si própria.