Rede global de tortura de gatos expõe falhas de fiscalização digital e crueldade sem limites – Noticiário 24H
Uma investigação internacional conduzida pela BBC revelou a existência de uma rede criminosa dedicada à produção e disseminação de vídeos com cenas de tortura de gatos — uma prática sádica que tem se espalhado em aplicativos de mensagens criptografadas e expõe um lado sombrio da internet que desafia autoridades em todo o mundo.
Apesar de ter ganhado notoriedade a partir da China, onde os primeiros casos viralizaram em 2023, o fenômeno já atingiu escala global, com células ativas no Reino Unido, Japão e outros países. O conteúdo, inacreditavelmente cruel, inclui cenas de mutilações, eletrocussão, afogamento e até a promoção de “competições” de tortura — evidência clara da banalização da violência contra animais.
Crueldade calculada, organizada e digitalizada
Grupos especializados nessa prática mantêm fóruns fechados e exigem que novos membros “comprovem” sua participação ativa com vídeos próprios de tortura para obter acesso total. A investigação aponta que esses grupos não apenas consomem esse tipo de conteúdo, mas também o produzem sob encomenda — ou vendem gravações para outros membros.
O mais alarmante é que parte desses vídeos é produzida por jovens e até crianças. Em um dos casos, uma criança de 10 anos declarou sua participação. A falta de regulamentação internacional clara, aliada à incapacidade de muitas plataformas de moderar conteúdos criptografados, tem permitido a expansão do fenômeno.
“As profundezas do mal”
Ativistas infiltrados, como os da ONG Feline Guardians, relatam que a frequência de vídeos é assustadora: um novo vídeo de tortura é postado, em média, a cada 14 horas. Um dos grupos identificados possuía mais de mil membros ativos.
“É um abismo de sofrimento sem fundo”, afirmou uma das voluntárias, que pediu anonimato por razões de segurança. Ela explica que os vídeos muitas vezes retratam tentativas de prolongar o sofrimento dos animais, inclusive com reanimação após a tortura inicial, para que o ciclo de crueldade continue.
A impunidade como combustível
Boa parte da produção ainda se concentra em países sem legislação específica contra maus-tratos a animais, como a China continental. Em um dos poucos casos em que houve punição, o autor de dois vídeos brutais foi detido por apenas 15 dias, reforçando a sensação de impunidade que alimenta esse ecossistema doentio.
Um personagem recorrente nesses grupos atende pelo pseudônimo de “Little Winnie”, associado a múltiplos fóruns. A investigação da BBC localizou um suspeito no Japão, que nega envolvimento — mas cujos padrões de atividade online coincidem com os das redes em questão.
Adoção como armadilha
Outro aspecto aterrorizante é o uso de instituições de adoção como fonte de animais para a tortura. Em grupos monitorados pela BBC, membros do Reino Unido discutiam formas de adotar filhotes de organizações como a RSPCA (Sociedade Real para a Prevenção da Crueldade contra os Animais) com a intenção explícita de abusá-los.
A própria RSPCA se manifestou afirmando que tais práticas “não têm lugar em uma sociedade moderna e civilizada”, e que está colaborando com autoridades para rastrear os responsáveis.
A fronteira entre crueldade e criminalidade
A comunidade internacional, ativistas e especialistas em comportamento alertam para o potencial risco de escalada: a tortura sistemática de animais pode servir como prelúdio para comportamentos ainda mais violentos. Estudos anteriores já associaram a crueldade contra animais a transtornos psicológicos e crimes contra pessoas.
A deputada britânica Johanna Baxter declarou que a tendência é “perturbadora e preocupante”, especialmente por envolver jovens. “O abuso de animais muitas vezes funciona como porta de entrada para a violência contra humanos”, afirmou.
Uma ameaça invisível, mas global
A existência dessas redes desafia fronteiras físicas, jurídicas e éticas. O anonimato garantido por plataformas criptografadas, combinado à ausência de leis internacionais eficazes de proteção animal, cria um terreno fértil para a perpetuação desses crimes.
Enquanto ativistas clamam por ações mais enérgicas e legislações mais rigorosas, milhões de pessoas — e animais — permanecem à mercê de uma subcultura perversa que só cresce nas sombras da web.